domingo, 21 de dezembro de 2008

And so it is...

... o meu último post escrito na cidade-luz.

A verdade é que estes três meses me deram muito, e não posso negar que fui imensamente feliz aqui. Vejo Paris agora de uma maneira que não consegui ver quando aqui estive como turista, quando a achei linda e distante. Agora, sinto-a um pouco minha, sinto-a como parte da minha história, sinto que hei-de levar para sempre os pequenos detalhes deste tempo roubado ao tempo. A cidade, essa mesma que da primeira vez me impressionou sem me encantar, encantou-me agora cada um dos dias, até hoje.

Tive a sorte imensa de ficar a viver num sítio com um espírito muito especial, onde é fácil criar laços, e de alguma forma compensar um bocadinho os abraços que nos faltam - lá longe, tão distantes. E a sorte, também, de me ter cruzado aqui com pessoas que foram a minha família cá, que tenho a certeza que o tempo não apagará.

Julguei que ia estar profundamente triste no dia da partida.
Tenho saudades dos meus, do Natal em casa, do cheiro a canela na cozinha.
Também estou um pouco nostálgica, é certo, mas estou acima de tudo profundamente agradecida pelas coisas boas que tive durante estes três meses, e tenho a sensação que as coisas que ganhei vão estar comigo, onde quer que eu esteja. No início, gostava de pensar nisto numa experiência com um princípio e um fim, mas na realidade, hoje tenho muito mais dúvidas do que tinha na altura, sobre o futuro.

Estar aqui - e ter conseguido este projecto de uma forma que, a esta distância, até me parece fácil - fez-me acreditar ainda mais que a melhor maneira de viver é irmos sempre atrás daquilo que sonhamos, dar espaço à vida para que ela nos possa surpreender - porque a recompensa chega, e vale a pena o risco, e compensa-o infinitamente.

Paris, vou levá-la comigo,
nos meus sonhos e nas minhas metáforas.
Assim, como um pôr-de-sol no Sena, a procurar la vie en rose.



Gosto de ficar a falar contigo na cozinha, dos jantares no sushi e do rosé, das conversas de gajas, dos cigarros roubados, de comprar gomas e marshmallows (com ou sem cinza), de nos rirmos como tolinhas, de regressar a casa a tremer de frio (e ainda assim PREparadas para sair outra vez :)

E ainda achas que me vou embora para sempre?
Que disparate!!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Torre de Babel

Aqui conhecemos tanta gente, e tão diferente.
Os conceitos de religião, arte, amor, sexo, amizade, política, culinária, economia, feminismo, capitalismo (e outros ismos) são uma amálgama, e a sensação que me dá é a de que a verdade, essa, reside algures no meio da torre de Babel.

Dizia um amigo, daqueles que guardamos para sempre - "viver fora do ter mundo dificilmente muda a pessoa que tu és, mas mostra-te quão amplos os teus horizontes podem ser". E esta frase para mim foi um destino, que repito cada vez que estou num capítulo destes.

A verdade é que para sermos aceites ou queridos, num mundo onde cada um fala a sua língua, ninguém nos pede que mudemos a nossa opinião ou que dispamos as nossas bandeiras. A única coisa que se pede é bom senso, tolerância, saber escutar - porque de facto nunca sabemos se a nossa verdade é mais verdadeira do que as outras.

E escutar, ou perceber, ou empatizar, não tem de todo a ver com perder uma identidade.
Tem muito mais a ver com consolidá-la, ampliá-la, entendê-la - de saber antes de mais que uma identidade é uma escolha permanente, e não apenas um legado.

Respeitar as nossas convicções, antes de mais, é saber que temos o direito de escolha sobre elas. Como, aliás, em tudo o resto.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Jantar de Natal INSERM u772

Tal como aqui em casa, também a nossa unidade do INSERM organizou um jantar de Natal. Foi um ambiente bastante relaxado, que começou com uma sessão de aperitivos, onde aproveitamos para tirar as fotos da praxe (aqui estamos, respectivamente, o pessoal dos almoços e a equipa do gene WNK1 :P)


De seguida, tivemos o verdadeiro jantar, com a tradicional raclette (que consiste em pôr queijo derretido em cima de... o que se quiser, normalmente charcutaria :) Foi um jantar muito giro, principalmente graças ao programa lúdico da Pim, com jogos quem-é-quem com as nossos fotos de bébés (chefes incluídos, sim :), quem-é-quem com as frases palermas de cada um e finalmente, um powerpoint com as fotos deste último ano do nosso laboratório. E no fim... snif snif... deram-me uma bela prenda de despedida, uma carteira bem gira :)

Gostei imenso (IMENSO) de trabalhar aqui e tenho a certeza que vou sentir saudades de um ambiente tão agradável. A verdade é que também tive momentos menos fáceis, principalmente devido à minha inexperiência no laboratório, e verdade seja dita, devido a um projecto que acho que foi desenhado bem acima das minhas capacidades... principalmente os primeiros tempos, em que simplesmente perceber o que estava a fazer, em francês, era o suficiente para me dar literalmente uma dor de cabeça. No fim, claro que me sinto grata porque tive a oportunidade de aprender imenso, mas na verdade no início houve alturas que não tiveram assim tanta piada :)

Mas, apesar disso, sempre foram todos muitíssimo prestáveis e pacientes comigo, e acima de tudo fizeram-me sentir um verdadeiro elemento parte da equipa, e não mais uma outsider.
A verdade é que isso também dificulta as coisas, a partida, as opções futuras - mas acima de tudo estou mesmo contente por ter tido esta oportunidade. Ficam as pequenas histórias, os amigos que foram feitos, e a esperança de que o futuro um dia nos volte a cruzar.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

La dernière semaine à Paris

Esta semana foi sem dúvida muito cansativa, mas não havia desculpas - tinha mesmo que ser bem aproveitada. O meu turismo, esta semana, foi o caminho da cité-u ao collège de france e, a uma semana da despedida, até isso é bonito para mim :)

Toda a gente me dizia que o fim de um projecto é a pior parte, e realmente esta semana trabalhei imenso e sai quase sempre tarde. Ou eram as últimas experiências que nunca eram as últimas, ou os cálculos finais que era preciso fazer, ou a dissertação que a minha orientadora quis começar enquanto ainda estivéssemos juntas - basicamente, uma grande trabalheira!

E a acrescentar a estes dias de trabalho intensivo, o facto das pessoas começarem a regressar a Portugal, algumas para regressarem depois a Paris, outras para regressarem um dia, quem sabe, de novo a nós. E por isso quase todos os dias nos juntamos à noite, a despedirmo-nos aos pouquinhos, um de cada vez, como se fosse um até já - e a dizer baixinho que as pessoas que entram a sério na nossa história, pelo menos essas, hão-de voltar, hão-de ficar, hão-de encontrar-nos num qualquer escondido desta Paris que levamos connsoco.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

La vie en rose [Edith Piaf]













© Elliott Erwitt, Paris 1989

Des yeux qui font baiser les miens, /
Un rire qui se perd sur sa bouche, /
Voilà le portrait sans retouche /
De l'homme auquel j'appartiens /

Quand il me prend dans ses bras /
Il me parle tout bas, /
Je vois la vie en rose /

Il me dit des mots d'amour, /
Des mots de tous les jours, /
Et ça me fait quelque chose. /
Il est entré dans mon coeur /
Une part de bonheur /
Dont je connais la cause. /
C'est lui pour moi. /
Moi pour lui, /
dans la vie, il me l'a dit, /
l'a juré pour la vie. /

Et des que je l'aperçois /
Alors je sens en moi /
Mon coeur qui bat

domingo, 14 de dezembro de 2008

O passeio deste fim de semana foi...

... Rue Mouffetard & Mosquée de Paris!
Ainda não tinha tido oportunidade de conhecer esta zona, embora seja pertinho do Collège de France. A verdade é que à medida que o projecto se aproxima do fim, tenho saído bem mais tarde, e a noite e o frio de Paris não convidam muito ao turismo, como acontecia no início... E por causa de tudo isso, os fins de semana têm mesmo que ser bem aproveitados para ver as coisas giras :)

A rue Mouffetard é conhecida pela animação dos bares e restaurantes e pelas numerosas lojas de comércio de todo o tipo. Mas para além disso, é uma rua carregada de história, no centro de um bairro frequentado no passado por personalidades como Descartes, Diderot, Verlaine e Edith Piaf, que foram frequentadores assíduos deste bairro tão autenticamente parisiense.
E diz o meu guia, também :), que no prolongamento da Rue Mouffetard viveu o escritor Ernest Hemingway, com uma história tão ligada a esta cidade - "tal era a Paris da nossa juventude, do tempo onde estávamos muito pobre e muito felizes."

Relativamente perto da Rue Mouffetard, encontra-se a mosquée de Paris, outro sítio que sem dúvida vale a pena visitar.