sexta-feira, 31 de outubro de 2008

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Beignets {coisas que eu gosto}

Que são parecidos com as nossas bolas-de-Berlim, mas mais fofos e com um discreto sabor a baunilha, e à primeira trinca provocam uma agradável explosão de doce de framboesa.


{e vou levar-te uma caixa para te dar as boas-vindas a Paris}

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

[É um post palerma, apeteceu-me]

Quarta-feira é dia das limpezas aqui na casa.
Este processo aparentemente simples é uma afinal uma coisa bastante surreal.

O primeiro ponto é simples: caso uma pessoa queira os lençóis trocados deve deixá-los no chão, sendo que existe uma data marcada para o efeito, de 15 em 15 dias (como se alguém voluntariamente quisesse dormir com os mesmos lençóis mais do que 15 dias seguidos).
Escusado dizer que este sistema funciona bastante mal para mim, que sistematicamente esqueço os dias da dita ménage e por isso lavo os meus lençóis as minhas custas na lavandaria (e com uma frequência maior do que os 15 dias weeee :)

O segundo ponto é o mais surreal. Hoje cheguei ao quarto e julguei que algo muito estranho se tinha passado cá. A verdade é que senhoras da ménage tem dois objectivos major:

a) passar uma esfregona no chão do quarto;
b) passar um jacto de água por todo o W.C.

Tudo o resto é paisagem. No entanto, este dois objectivos são cumpridos a qualquer preço, no matter what, varrendo qualquer obstáculo que se ponha no seu caminho, qual Terminator.

(Assim se verifica o modo como, durante a execução do objectivo a),
o meu tapete e colcha foram violentamente tirados do caminho)

(Do mesmo modo,durante a demanda do objectivo b)
os obstáculos à execução são empilhados
ou simplesmente atirados para um sitio tipo lavatório)

"Par ici ou par là?"

Partir. Voltar.
As pessoas que ficam. E as pessoas que chegam.
Com espaços complementares, acrescentados ao vazio que não sabíamos que existia.

As decisões difíceis, impensadas, subitamente descobertas.
O horizonte aberto das opções. A responsabilidade da escolha. O medo do remorso, o medo do próprio medo, das suas limitações e, pior do que tudo, das suas consequências.

Ficar no limbo. Querer um bocadinho dos dois mundos. Querer um mundo que não existe, onde encaixassem ambos assim, completos, perfeitos.

Descobrir que ninguém dá os passos sem dor, e que a coragem está muito longe da insconciência - e bem mais próxima da ambivalência de um medo que é quase tão forte como ela, apenas um bocadinho infinitesimal menos intenso. E, por isso, não existe outra opção senão levá-los a ambos, lado a lado, na mesma bagagem.

Querer um mundo novo, resgatar uma esperança pueril de sonho, de poesia, de romance, que sabemos nossos mas que os dias nos fizeram esquecer. É que afinal, é possível - e quase parece fácil - a vida ser assim.

E, no fim disto tudo, achávamos que isto facilitava as coisas.
Que ser feliz é uma coisa plena, sem questões, sem mas.
Naïves.


Marché aux fleurs

Este é um dos meus sitios preferidos de Paris.
Bem pertinho de Notre-Dame, a convidar a um passeio depois do trabalho.

Esta aberto todos os dias, ate as 19h30, e aqui vende-se todo o tipo de flores, ramos e vasos - e, aos domingos, pássaros também. A verdade é que ja não sei quantas vezes fui la, desde que cheguei, embora a minha única aquisiçao tenha sido um saquinho de túlipas vermelhas para a minha avó plantar na nossa floreira, a preparar Janeiro :)

E um sítio cheio de cores e cheiros, escondido em plena Île-de-France, relaxado e relaxante, cheio de romance. Mais do que um mercado, é um lugar agradável para passear nestes finais de tarde, em que o frio cortante espreita pelo que sobra entre o gorro e o cachecol...


segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Le seul véritable voyage

Nymphéas, Claude Monet

"Le seul véritable voyage, le seul bain de Jouvence, ce ne serait pas d'aller vers de nouveaux paysages, mais d'avoir d'autres yeux, de voir l'univers avec les yeux d'un autre, de cent autres, de voir les cent univers que chacun d'eux voit,
que chacun d'eux est. "

[The only true voyage of discovery, the only fountain of Eternal Youth, would be not to visit strange lands but to possess other eyes, to behold the universe through the eyes of another, of a hundred others, to behold the hundred universes that each of them beholds,
that each of them is.]

Marcel Proust, La Prisonnière (1923)

domingo, 26 de outubro de 2008

E temos 5 anos outra vez...

A primeira vez que vim à Disney, há 5 anos (puxa, estou velhota :)) foi um momento verdadeiramente inesquecível para mim. Não só pela Disney, obviamente, mas porque foi a minha primeira viagem extra-ibérica - e aquela que deixou o bichinho de viajar-, uma viagem cheia de momentos em que fui verdadeiramente feliz, e que ainda hoje recordo com muito carinho.

E por isso a Disney é para mim um lugar associado a muito boas memórias. Isso, e todo o detalhe de um sítio onde ficamos pequeninos outra vez, encantados, encantáveis. Por tudo isso foi um prazer voltar lá, e compartilhar com a minha tia este sítio. Depois de um sábado de turismo intensivíssimo por Paris :), perdemo-nos então neste sítio tão mágico.


quinta-feira, 23 de outubro de 2008

To build a home


Hoje fui aos correios para enviar uma encomenda au Portugal (sim, O Portugal - why my god? :) e enquanto esperava estava a passar la num ecrã uma publicidade ao turismo no Porto. E foi giro ver o Porto de fora: a ponte de D. Luis ao entardecer, a ribeira e o cubo, o passeio dos alegres, a foz, tudo num ligeiro slow motion, em dias de sol, como uma cidade-postal.
Mas o que foi mais supreendente, para mim, foi que nos momentos em que passava cada um destes sitios, foi verdadeiramente instantânea a lembrança de tantas histórias associadas a cada um destes sítios - e assim, momentos que na altura pareceram apenas agradáveis, surgiram-me no momento exactamente da mesma forma que a publicidade à cidade, em slow motion, com a luz cálida dos finais de tarde.

[Caminhar na Foz ao sábado de manhã,
depois do pequeno almoço no Boca Doce.
Comer tremoços na esplanada do cubo,
à espera do começo dos jogos de futebol.
Os jantares na ribeira no verão,
com a inevitável indecisão da escolha do restaurante.
Subir aos Clérigos e ser surpreendia por uma cidade diferente,
ao fim de tantos anos, erradamente tomada como conhecida.]

Na verdade, os lugares são apenas isso, lugares. Podem seduzir-nos, mas não nos prendem por si - e o deslumbramento passa com o tempo. Não tenho saudades dos sítios, para ser sincera, mas acho que isso se prende com saber que voltarei sempre ai, de uma forma ou de outra. Tenho saudades, como tive ontem, das pessoas que sei minhas, e que se entrelaçam na história destes lugares.
Sinto isso - e acho que sentirei - tambem relativamente a viver em Paris. A cidade é para mim, e acima de tudo, uma metáfora. Um símbolo de um sonho cumprido (e tantas vezes perseguido, um pouco obsessivamente :)), de liberdade, de magia, de uma história em branco - para viver à minha maneira, sem ceder num único detalhe, com toda a ilusão que eu tiver para gastar.

Cada vez sinto mais que a nossa casa pode ser em qualquer lado, e é um lugar que tem pouco de geográfico. E as vezes, nao tem sequer a ver com a presença física de quem amamos. Tem a ver com uma presença mais importante, a de sabermos que os nossos nos esperam, na nossa verdadeira casa, onde quer que esse lugar seja.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Nous allons au cinéma!


Fomos todos ao cinema :) Com a logistica que uma coisa destas envolve, entre mobilizar toda a gente, e casacos (é que afinal estava mesmo frio!!) e passes e cartões de estudante, ja so conseguimos ir a segunda sessão.

Fomos ver Vicky Cristina Barcelona e recomendo vivamente.
A receita é facil. E é facil gostar - de Barcelona, do verão, das personagens, de uma viagem de duas amigas durante as férias, da ideia de liberdade (as vezes tão pseudo-intelectual) de saber apenas o que não se quer.

Se calhar, não tão aplaudivel como o hype faz crer - ja toda a gente aqui foi / vai / quer ir ver. Mas ainda assim no estilo dos ultimos filmes do Woody Allen, com dialogos muito engraçados e pormenores deliciosos, e uma Penélope Cruz no papel em que mais gostei de a ver até hoje, lunatica e ainda assim bastante credivel.

[E não consigo tirar esta musica da cabeça :)]

Difícil, difícil...


... é explicar a um francês como é que transformamos o croque monsieur deles na nossa francesinha.


E pior ainda é explicar porque é que lhe chamamos qualquer coisa parecida com "jeune femme française" :)

segunda-feira, 20 de outubro de 2008



"Ma petite Amélie, vous n' avez pas des os en verre.
Vous pouvez vous cogner à la vraie vie (...).
Alors, allez-y, nom d'un chien!"

(l'homme de verre, le fabuleux destin d'Amélie Poulain)

domingo, 19 de outubro de 2008

Versailles


Este fim de semana fui a Versailles com a Joana, e felizmente fomos presenteadas com um dia bem azul, apesar de frio - como têm sido quase todos ultimamente :)

Confesso que não tinha muitas expectativas relativamente a este passeio, e era apenas um daqueles sítios acerca dos quais tinha alguma curiosidade, mas apenas isso. A verdade é que foi uma boa surpresa, mas não tanto pelo castelo em si - que sem dúvida tem algumas colecções interessantes, mas nada de muito surpreendente. Estava lá também uma exposição de Jeff Koons, essa sim bem sui generis.


O que realmente mais gostei foi mesmo dos jardins, que são enormes e muito bem cuidados, sempre rodeados por canais, cascatas e fontes. Das 15 às 17h as fontes são ligadas e ouvem-se várias peças de música clássica em cada um dos pequenos jardins - é indiscutivelmente um espectáculo muito bonito. Fez-me lembrar um bocadinho o Montjuic em Barcelona, mas numa escala maior [agora a expressão "à grande e à francesa" faz-me mais sentido, estes tipos não sabem fazer coisas pequeninas e discretas :)].

sábado, 18 de outubro de 2008

Pot de bienvenue

Cá é muito comum fazerem o chamado pot, e qualquer motivo é uma desculpa.
O pot basicamente é uma pequena festa, que envolve comida e bebida, para festejar qualquer coisa mais ou menos relevante - desde que cheguei já houve 3 lá no INSERM, ora porque alguém chega, alguém parte, algum artigo é publicado. (E eu acho que são só pretextos ;))

E, desta forma, ontem tivemos cá também na maison o nosso pot de boas vindas.
Os pontos altos: comidinha portuguesa de entrada! Rissóis, e croquetes e salgadinhos, pastéis de feijão e doce de ovos, e todas essas coisas boas que não há em lado nenhum como no nosso Portugal. E em seguida... o festão 80's :) Foi muito giro, e acima de tudo, uma boa oportunidade para conhecermos as pessoas dos outros pisos que também estão por cá.


À entrada, somos recebidos por uma frase do Ernest Hermingway, que é sem dúvida bastante inspiradora.
A verdade é que Paris se entranha. Não quero ser uma emigra desnaturada ("ah, lá na França é que é bom!! :)), porque de facto tenho saudades de muitas coisas nossas como povo e como cultura. Mas a verdade é que é muito difícil resistir ao deslumbramento de viver cá - todas as formas de arte são oferecidas de uma forma tão gratuita e tão cuidada, nos mais pequenos detalhes, que é impossível não admirar o orgulho e o empenho que os parisienses têm na sua cidade.

Obviamente que a minha opinião não é isenta, e que provavelmente a lua-de-mel passará, mas sinto-me num filme quando passeio por aqui - sair do trabalho e poder passear pela rive gauche, comprar flores na rua, ver o pôr-do-sol no Sena, ter tantos monumentos lindíssimos à volta (mesmo que a maioria deles sejam incógnitos dos guias turísticos) são coisas que parecem quase irreais, de tão etéreas.

A verdade é que nesse momento, quando li a frase de Hemingway, desejei tê-la escrito.
Têm estas coisas os poetas, tanta neblina a elaborar um sentimento, e eles pintam-no com as palavras exactas que gostariamos de ter dito.
É que é exactamente isso - Paris é um sítio para ficar comigo.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A correr

{com o devido desconto de uma generalização}
[Dizíamos que nós, tugas, temos um grande plano para a nossa vida. Achamos que as nossas decisões nos definem ad aeternum. Que quando escolhemos um percurso profissional é para a vida. Que é inquestionável perdermos um ano inteiro, como os estudantes nórdicos fazem - para passear, conhecer uma cultura diferente, arranjar um emprego para pagar a ousadia e a experiência. Nós, tugas, gostamos do nosso cantinho...]

E acho também que gostamos da sensação de estar a correr para algum lado, de estarmos encaminhados, de não termos que pensar bem no próximo passo. Corremos para entrar na faculdade. Para acabar o curso. Para arranjar emprego. Para escolher a especialidade. Para tantos outros projectos pessoais.
Corremos porque é a meta seguinte, o próximo passo, o caminho previsto e previsível.
Corremos às vezes sem saber porquê - apenas porque é suposto, mesmo que nem sequer pensemos a fundo nisso. Corremos para ali porque toda a gente corre, porque nos dizem que sim e, às vezes, convencem-nos.


[Parar para pensar. Para questionar as decisões.
Para pôr novas hipóteses.
Para ter o vazio. Para pensar que as opções são infinitas.
Para acreditar que se calhar somos capazes.
Como todos os outros , não é difícil.
Boas surpresas acontecem quando deixamos as portas abertas
e, com sorte, descobrimos o caminho que não sabíamos ter à nossa espera.]

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

On y mange?


Isto para mim, é das coisas mais encantadoras de viver numa residência de estudantes.
No início, eu achava que ter a "minha" cozinha era importantíssimo para mim. Quando saía do quarto com todas as minhas tralhas (a.k.a. cozinha portátil, que inclui pratos, talheres, copo e os ingredientes pouco elaborados com que faço as minhas refeições), nunca sabia bem o que me esperava, porque sentia que todos os dias conhecia pessoas diferentes, com as quais muitas vezes tinha conversas interessantíssimas mas nem sequer me lembrava do nome. E isso dava-me uma sensação de que coisas boas, aqui, me aconteciam tão rapidamente como me escorriam por entre os dedos.

Agora, os rostos são mais familiares, criam-se pequenas histórias e laços. Normalmente os nossos jantares começam as 8 e terminam as 11, a hora em que somos (mais ou menos) gentilmente expulsos da cozinha. Cozinhamos todos ao molhe, fazemos comida às prestações, partilhamos os tachos e, com sorte, alguém faz comida para três ou quatro. Entre diálogos em francês, inglês, português, árabe e italiano, ri-se, inventam-se palavras, faz-se mímica, discute-se arte, política, música, ciência - e muitas pequenas coisas sem importância, que fazem com que a casa pareça mais perto.

O jantar é o menos importante do jantar - ele acaba e nós ficamos, na conversa bem depois de termos terminado, à espera que neste bocadinho de vida caiba tudo o que nos ficou em tantos lugares dispersos do planeta. E, de alguma forma, as coisas aparecem - tímidas, discretas, quase sem que nos apercebamos. E de repente estão lá. É incrível como em pouco tempo as pessoas precisamos de uma rede, de pessoas que possamos chamar nossas - é uma questão quase física, quase gravítica.

Sim, o jantar é o menos importante do jantar - é apenas um delicioso pretexto para trocar ideias e criar laços, rir e esquecer, lembrar que o tempo passa tão rápido e que os pequenos momentos, os mais genuínos e simples, são sempre aqueles que levamos no baú das recordações.
Aqueles que, na altura, são apenas isso, momentos espontâneos e felizes, onde subitamente tudo parece no seu lugar.

E eu, que sempre tive cães e gatos...


... tenho agora este sucedâneo minor de um animal de estimação.
Que é preciso alimentar de 3 em 3 dias, mudar o meio para ficarem limpinhas e crescerem felizes e com espaço, manipular sempre com luvas, aquecer com cuidado e manter a temperatura certa (não queremos que expludam com o choque térmico :)).

[E todo o meu empenho num bicho (ou milhões deles) que não faz sequer uma agradavel companhia, não tem um pelinho fofo para me confortar ao fim do dia, nem me aquece os pés no Inverno]

terça-feira, 14 de outubro de 2008

sábado, 11 de outubro de 2008

Revoltei-me...

... por ter um horário e um trabalho, e não poder gastar todo o meu tempo a passear por cada recanto de Paris. Acordei mais cedo, comprei um cappucino e um coissant e fui tomar o meu pequeno almoço para o Jardin du Luxembourg.

Sinto-me um bocadinho francesa, e quase percebo porque os franceses não gostam muito dos turistas. E não é bem dos turistas em si, é do que eles fazem à cidade, do que eles lhe tiram ou acrescentam.

Se esta cidade fosse minha também a quereria só para mim. Num desejo egoísta e mimado - não estraguem este momento, é só meu -, sem gente e sem ruído, só com o silêncio do amanhecer fresco e cálido, a luz horizontal e breve, a paz das coisas belas.
Esta manhã, eu quis Paris só para mim.


sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Le baiser de l'hôtel de ville

Robert Doisneu, fotógrafo francês
[inspirado e inspirador]

The end of our nose {franceses inspirados}

Traveling through the world produces
a marvelous clarity in the judgment of men.
We are all of us confined and enclosed within ourselves,
and see no farther than the end of our nose.

This great world is a mirror where we
must see ourselves in order to know ourselves.

There are so many different tempers,
so many different points of view,
judgments, opinions, laws and customs
to teach us to judge wisely on our own,
and to teach our judgment to recognize
its imperfection and natural weakness.

Michel de Montaigne (filósofo e escritor francês)



[E nós que, para lá de toda a diferença, somos no fundo somos tão iguais:
queremos o mundo inteiro, a doçura do sonho, a inocência da esperança, a intensidade da vida - ou talvez um ideal romântico e naïf destas bandeiras, que já não saberíamos largar.

Mas apenas para os colher pelo caminho e os levar de volta para os braços onde deixamos esquecido o coração, à nossa espera.

Para partir de novo?
Sim, quem sabe - há vícios que se nos entranham sem sabermos onde termina a nossa vontade.
Mas sempre com os olhos postos no próximo regresso, mesmo que não o definitivo.]

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Vender flores {conversas giras}


"As pessoas acham que podemos dar, dar, dar - e que a nossa capacidade de sobreviver não se esgota. Eu andei todos estes anos a dar muito, e só precisava de paz, de um sítio novo, de me esquecer de mim.

Preciso de me encontrar outra vez, para ser eu própria de novo, para recarregar as baterias - para depois ser capaz de dar tudo outra vez.

Por isso quando me perguntam o que quero fazer, só sei que quero fazer uma coisa diferente. Não quero ouvir os problemas dos outros e fazer de conta que eles não me afectam, porque é o meu trabalho e a vida continua. Não quero enganar-me e fazer de conta que as coisas passam por mim e não deixam marcas, porque as marcas estão cá mesmo quando eu não as vejo.

O que eu gostava era de trabalhar numa loja, com todo o tempo do mundo para pensar, vender flores em Paris."

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Primeiro fim de semana em Paris


Place de la Bastille

Nuit blanche [a.k.a. noite de espectáculos, concertos
e exposições nas ruas e estações de metro de Paris]
@ Rue des Lappes: Joana, eu, Inês, Ana e Marta

Les Invalides

Champ de Mars

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

INSERM / Collège de France


Assim passou a minha primeira semana (meia-semana, de facto) no laboratório.
O INSERM faz parte da Collège de France e é num sítio bastante giro de Paris, no chamado quartier latin - um bairro que roubou o nome à língua incialmente falada pelos estudantes da Sorbonne. Desde sempre o quartier latin foi associado a artistas, estudantes e à vida boémia ;), e foi também aqui que aconteceram as revoltas estudantis de Maio de '68. É um sítio com várias avenidas onde é agradável passear (foi o que valeu no meu primeiro dia de trabalho, perdi-me como sempre! - onde estás Anita, com o teu mega-livro??).

O meu projecto está finalmente definido: sem grandes pormenores, vou estudar a regulação de um gene chamado WNK1, que pode estar envolvido no aparecimento da hipertensão arterial. Depois, vou fazer-lhe umas coisas engraçadas ;) que incluem metê-lo dentro de células e expandi-lo por clonagem, de maneira a percebermos porque é que ele "funciona mais" numas pessoas do que noutras - isto é, porque é que ele provoca hipertensão numas pessoas e noutras não. A Juliette (a minha orientadora) é bastante simpática e acessível, e o ambiente no laboratório é relaxado... somos 4 na minha sala, sempre com uma musiquinha, e cada um com o seu tempo para fazer as coisas, sem grandes pressões. É muito diferente de qualquer trabalho que tenha tido até agora, mas confesso que me agrada este ambiente sem stress e sem horários muito fixos. E por outro lado, é muito estimulante trabalhar numa área onde ainda se sabe pouco, ter que estar sempre a adaptar as coisas perante novas hipótese (e, às vezes, parar só para pensar nas alternativas possíveis). Parece que a cada momento se pode encontrar uma ideia nova.


Embora esteja cá há pouco tempo, parece que já me começo a sentir um bocadinho em casa. É muito fácil gostar de Paris - acordar para passear no Jardin des Tuilleries, beber chocolate quente à beira do lago, passear pelas lojas de St.Michel, almoçar nos jardins, são pequenos prazeres que não têm preço.

Sinto saudades (já e ainda), claro.
Às vezes, gostava de poder compartilhar esta experiência com aqueles que sei meus.

Mas apesar de tudo, aqui é fácil conhecer pessoas, e tenho cá a Joaninha (namorada do Velasco) e a Inês (que também está cá a fazer o doutoramento), e temos feito uns serões de jantar e cinema, dado uns passeios e combinado uns jantares. Estou cá só há 3 dias, e é muito bom ter a companhia delas, de outro modo seria um início bem mais complicado :)

Cité U


Aqui está a Cité Internationale Universitaire de Paris - ou, para os nativos, cité U. É neste sítio que tenho o prazer de ter ficado :) O edifício principal é este, que me lembra sempre a Hogwarts do Harry Potter. E à volta desta casa principal, onde estão a biblioteca e as cantinas, existem as várias casas de cada país. Na verdade, na casa de Portugal não existem mais do que 50% de portugueses, porque pelo que percebi acabam por fazer sempre algumas trocas de maneira a manter-se o espírito multicultural que era a ideia inicial da cité.
Não estou nada arrependida de ter ficado aqui, neste momento. É um facto que gostava de ter a minha própria cozinha :), mas é também verdade que o pretexto de ir fazer um café ou um chá é sempre bom para falar um bocadinho com alguém. E esse é, para mim, o aspecto mais positivo de estar num sítio destes: é fácil conhecer gente interessante, ter conversas engraçadas, ter momentos para guardar - que, muitas vezes, são apenas isso: agradáveis momentos de entrega e amizade instantânea, perdidos no tempo, mas não por isso menos marcantes.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Paris

Chegada a Paris!
Foi desde sempre uma ideia minha viver algum tempo fora de Portugal - e esta ideia não tem tanto a ver com não gostar de algumas coisas no meu país (que nem são tantas assim...), mas muito mais com a vontade de ganhar experiência profissional noutro país, experimentar culturas diferentes, aprender coisas novas, testar-me em novas situações e, porque não (e como sempre...), ter um bocadinho de aventura :)

Mas por outro lado, parece que cada vez é mais difícil partir - as decisões são mais ponderadas, menos leves, mais conscientes, e por tudo isso, menos fáceis. No início deste ano, quando consegui confirmar a ida para a Guiné-Bissau e depois para Paris, achei que o ideal era que não tivesse acontecido tudo no mesmo ano - mas, por outro lado, sei que quanto mais adiasse estes sonhos mais dificuldade teria em partir e mais acomodada ficaria... De alguma forma, esta foi a altura certa.


Paris é sempre Paris. Uma cidade linda, onde é tão fácil ver coisas bonitas. Com arte por todo o lado, anúncios de concertos de música clássica, art nouveau à venda nas margens do Sena, pessoas sentadas nos parques a lerem romances. Foi essa uma das coisas que mais gostei quando vim aqui da primeira vez - sendo uma grande capital, parece haver tempo, as pessoas parecem desfrutar da sua própria cidade em vez de correrem atrás dela. Deste modo... não é de qualquer forma um sacrifício para mim estar aqui. Não é de todo um sítio onde seja difícil sentir-me em casa. Mas é acima de tudo uma agradável expectativa ver o que estes tempos me podem trazer. Profissionalmente, é saber se estarei à altura das coisas, se conseguirei aprender todo um mundo de uma área que é adjacente à minha (mas não a minha exactamente). Mas acima de tudo, é a grande expectativa de saber viver estes tempos de forma a que eles sejam inesquecíveis.

PS - Fotos... num futuro próximo! [o cabo USB jaz em Portugal :P]