A verdade é que estes três meses me deram muito, e não posso negar que fui imensamente feliz aqui. Vejo Paris agora de uma maneira que não consegui ver quando aqui estive como turista, quando a achei linda e distante. Agora, sinto-a um pouco minha, sinto-a como parte da minha história, sinto que hei-de levar para sempre os pequenos detalhes deste tempo roubado ao tempo. A cidade, essa mesma que da primeira vez me impressionou sem me encantar, encantou-me agora cada um dos dias, até hoje.
Tive a sorte imensa de ficar a viver num sítio com um espírito muito especial, onde é fácil criar laços, e de alguma forma compensar um bocadinho os abraços que nos faltam - lá longe, tão distantes. E a sorte, também, de me ter cruzado aqui com pessoas que foram a minha família cá, que tenho a certeza que o tempo não apagará.
Julguei que ia estar profundamente triste no dia da partida.
Tenho saudades dos meus, do Natal em casa, do cheiro a canela na cozinha.
Também estou um pouco nostálgica, é certo, mas estou acima de tudo profundamente agradecida pelas coisas boas que tive durante estes três meses, e tenho a sensação que as coisas que ganhei vão estar comigo, onde quer que eu esteja. No início, gostava de pensar nisto numa experiência com um princípio e um fim, mas na realidade, hoje tenho muito mais dúvidas do que tinha na altura, sobre o futuro.
Estar aqui - e ter conseguido este projecto de uma forma que, a esta distância, até me parece fácil - fez-me acreditar ainda mais que a melhor maneira de viver é irmos sempre atrás daquilo que sonhamos, dar espaço à vida para que ela nos possa surpreender - porque a recompensa chega, e vale a pena o risco, e compensa-o infinitamente.
Paris, vou levá-la comigo,
nos meus sonhos e nas minhas metáforas.
Assim, como um pôr-de-sol no Sena, a procurar la vie en rose.