quarta-feira, 15 de outubro de 2008

On y mange?


Isto para mim, é das coisas mais encantadoras de viver numa residência de estudantes.
No início, eu achava que ter a "minha" cozinha era importantíssimo para mim. Quando saía do quarto com todas as minhas tralhas (a.k.a. cozinha portátil, que inclui pratos, talheres, copo e os ingredientes pouco elaborados com que faço as minhas refeições), nunca sabia bem o que me esperava, porque sentia que todos os dias conhecia pessoas diferentes, com as quais muitas vezes tinha conversas interessantíssimas mas nem sequer me lembrava do nome. E isso dava-me uma sensação de que coisas boas, aqui, me aconteciam tão rapidamente como me escorriam por entre os dedos.

Agora, os rostos são mais familiares, criam-se pequenas histórias e laços. Normalmente os nossos jantares começam as 8 e terminam as 11, a hora em que somos (mais ou menos) gentilmente expulsos da cozinha. Cozinhamos todos ao molhe, fazemos comida às prestações, partilhamos os tachos e, com sorte, alguém faz comida para três ou quatro. Entre diálogos em francês, inglês, português, árabe e italiano, ri-se, inventam-se palavras, faz-se mímica, discute-se arte, política, música, ciência - e muitas pequenas coisas sem importância, que fazem com que a casa pareça mais perto.

O jantar é o menos importante do jantar - ele acaba e nós ficamos, na conversa bem depois de termos terminado, à espera que neste bocadinho de vida caiba tudo o que nos ficou em tantos lugares dispersos do planeta. E, de alguma forma, as coisas aparecem - tímidas, discretas, quase sem que nos apercebamos. E de repente estão lá. É incrível como em pouco tempo as pessoas precisamos de uma rede, de pessoas que possamos chamar nossas - é uma questão quase física, quase gravítica.

Sim, o jantar é o menos importante do jantar - é apenas um delicioso pretexto para trocar ideias e criar laços, rir e esquecer, lembrar que o tempo passa tão rápido e que os pequenos momentos, os mais genuínos e simples, são sempre aqueles que levamos no baú das recordações.
Aqueles que, na altura, são apenas isso, momentos espontâneos e felizes, onde subitamente tudo parece no seu lugar.

1 comentário:

António disse...

erasmus, erasmus...saudade